Ainda é tradição que a formação em Psicologia apresente uma grande diversidade de abordagens teóricas e terapêuticas, deixando a cargo do aluno a realização de uma escolha. O único critério pregado como relevante é o nível de afinidade e identificação pessoal que esse sente pela respectiva abordagem. Ao mesmo tempo, é pregado aos estudantes que todas as abordagens são igualmente dignas de confiança, mesmo que na realidade elas sejam inconsistentes e não tenham apoio em boas evidências científicas. Tudo isso é justificado com base em uma noção relativista sobre teorias psicológicas: supostamente, cada um teria a sua verdade sobre elas. Além disso, há um nítido desprezo pela tentativa de se fazer psicologia cientificamente, desprezo esse que se apoia em críticas descabidas, como a de que essa aproximação da ciência seria antiética, levaria à desconsideração da subjetividade e ao descaso com a saúde mental. Entretanto, essa visão, que reina soberana até então, não pode mais continuar inquestionada.

Somos um movimento de estudantes, profissionais e pesquisadores que levantam críticas sobre esses postulados e defendem uma Psicologia Baseada em Evidências. O que deve contar fundamentalmente para a escolha de uma intervenção ou teoria psicológica são as evidências que temos a favor das mesmas e não a mera preferência pessoal do psicólogo, tampouco o nome do autor ou a força da tradição. Desse modo, defendemos que um olhar crítico seja adotado sobre todas as teorias e intervenções presentes na Psicologia. Isso implica aceitar apenas aquilo que tivermos evidências mais fortes a favor, e abandonar tudo o que não possuir boas evidências para se sustentar ou que foi superado por outras alternativas que se mostrem mais bem fundamentadas.

Defendemos que o embasamento científico não atrapalha a atividade do psicólogo. Muito distante disso, pensamos não haver possibilidade de se fazer psicologia responsavelmente sem ciência. Parte importante de ser ético enquanto psicólogo, considerar as subjetividades e contribuir positivamente para a saúde mental é justamente a adoção de uma Psicologia Baseada em Evidências. É com investigações robustas sobre o funcionamento psicológico humano que podemos compreender a subjetividade, para além dos meros relatos de casos anedóticos. É com provas de que intervenções realmente funcionam e fazem bem para os indivíduos é que podemos cuidar da saúde mental. É dando boas garantias para a população que as teorias e intervenções que adotamos são as mais confiáveis que temos para nos apoiar é que podemos ser éticos em nossa profissão.